17.8.07

Conflito de gerações

Andava solitário e pensativo o jovem, quando repentinamente escuta uma voz a lhe chamar insistentemente. Olha para trás em vão, duas ou três vezes, até perceber que a voz que lhe procurava estava ao horizonte, em sua frente.
Tratava-se de um adulto decepcionado.
- Por que tanto me chamas? - indagou o jovem
- Não vê no que estas te transformando rapaz? Olhe bem.
Ele sabia do que o adulto estava falando, pensava a mesma coisa freqüentemente. Porém achou inválido responder-lhe.
- Quem pensas que é? Pensas que só por me ver aí do alto pode julgar quem sou?
- Sou teu futuro, e já te observo há muitos anos!
O jovem já nem lembrava da sua longa espera, do tempo em que uma criança sorridente veio e lhe abraçou dizendo que a hora de andar havia chegado. Mas bastou o grito do adulto para lhe lembrar. E essa breve migalha de memória foi suficiente pra entender o porquê de estar em tal situação, sendo alertado pelo seu futuro.
- Pois se continuar o fazendo, estarás tão somente seguindo o meu caminho errante.
- Não te entendo... - responde o adulto agora confuso.
- Foi por observar demasiadamente minha... nossa infância, que esqueci de olhar para o caminho que eu teria que percorrer. Agora não sei aonde piso... mas sei que um dia te encontrarei... e se assim continuar, tornar-se-á o que hoje tanto abomina.
Em silêncio, o adulto fez um breve sinal de concordância e deu as costas ao jovem. Lhe pareceu sensato o que disse o jovem. A ele só restava esperar... observando sua própria e longa estrada. Estrada essa que daria ao alto da montanha, onde um velho caduco e louco caia na risada.

Nessa estrada passos lentos encurtam o caminho, passos longos o aumentam. No fim, o tempo é igual para todos... a pressa ou a lentidão são somente formas de modelar o próximo caminhante de diferentes maneiras. Cada um faz como lhe parece certo.

Em tempo, fica o ensinamento mais-merda-nenhuma, do mestre Patrul Rinpoche:

"Não prolongue o passado,
Não convide o futuro,
Não altere sua atenção natural -
Não tema aparências.
Não há nada além disso!"