20.6.08

Sonhos

Já tem algum tempo que acordei com certo espanto numa dessas manhãs que não sabe em que estação estamos. Ou foi numa tarde? Ter o horário desregulado (e ser um vagabundo) causa essas dúvidas.

Deixando os parênteses de lado, o espanto foi causado por um sonho. Pesadelo, então? Não, sonho mesmo. Um sonho repetido. Um velho negro e banguela cantava uma paródia sobre relação entre homem e mulher. Eu estava na roda que apreciava a canção. Era uma letra engraçada. Eu ria, assim como os demais.

Mas o mais engraçado disso é que - lembrando do filme Waking Life - a canção na verdade era minha. O velho era eu. A platéia toda, quem sabe. Meros coadjuvantes. Toda essa idéia foi minha, eu já tinha sonhado com ela. O cenário mudou, a música se repetiu. É uma pena não me recordar da letra, de novo. É uma pena que uma hora a gente acorda e não pode prosseguir o sonho. Não recantar, não reviver. E ele vai se apagando, apagando... até não conseguir mais se lembrar dele. Entretanto, em algum canto tudo se guarda e, sem mais nem menos, o sonho pode se repetir.

Assim também é na vida. Tudo não passa de fugazes sonhos. Uma linda arquitetura sustentada por pilares de idealizações quiméricas e orgulho obsessivo. Um dia a gente acorda, e o sonho acabou. E se apaga, aos poucos. Pode-se repetir sonhos em vida? O rancor grita que não. A esperança suspira que sim. E sem tomar partido, agora espero ter o mesmo espanto do acordar antes de dormir.